O cancro da mama, uma das formas mais comuns de cancro que afeta mulheres em todo o mundo, é uma doença complexa com uma fisiopatologia multifacetada. Compreender a intrincada rede de processos biológicos e moleculares subjacentes ao desenvolvimento e progressão do cancro da mama é fundamental para melhorar as estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento. Neste artigo, vamos aprofundar-nos nos principais aspetos da fisiopatologia do cancro da mama, lançando luz sobre as complexidades desta doença.

    O Que é o Cancro da Mama?

    O cancro da mama começa quando as células da mama começam a crescer fora de controlo. Estas células podem formar um tumor que muitas vezes pode ser visto numa radiografia ou sentido como um caroço. O cancro da mama ocorre principalmente em mulheres, mas também pode ocorrer em homens. É importante notar que a maioria dos caroços na mama não são cancerosos, sendo frequentemente benignos ou outros problemas. Diferentes tipos de cancro da mama podem desenvolver-se dependendo de quais células da mama se tornam cancerosas. O cancro pode começar em diferentes áreas da mama: nos lóbulos, que são as glândulas produtoras de leite; nos ductos, que são as vias que transportam o leite para o mamilo; ou no tecido estromal, que é o tecido conjuntivo que envolve os ductos e lóbulos. O cancro pode também espalhar-se para fora da mama através dos vasos sanguíneos e linfáticos. Quando o cancro da mama se espalha para outras partes do corpo, diz-se que fez metástases. Compreender os diferentes tipos e estágios do cancro da mama é fundamental para determinar o plano de tratamento mais eficaz.

    Fisiopatologia do Cancro da Mama

    A fisiopatologia do cancro da mama envolve uma interação complexa de fatores genéticos, hormonais e ambientais que levam ao desenvolvimento e progressão da doença. Aqui estão os principais aspetos:

    Mutações Genéticas

    As mutações genéticas desempenham um papel significativo no desenvolvimento do cancro da mama. Certas mutações genéticas hereditárias, como as dos genes BRCA1 e BRCA2, aumentam significativamente o risco de cancro da mama. Estes genes estão envolvidos na reparação do ADN e, quando mutados, podem levar a uma acumulação de erros no ADN e a um crescimento celular descontrolado. Outras mutações genéticas, como as do gene TP53, PIK3CA e PTEN, também têm sido implicadas no cancro da mama. Estas mutações podem afetar vias de sinalização celular, reparação do ADN e progressão do ciclo celular, contribuindo para o desenvolvimento e progressão do cancro. Identificar estas mutações genéticas pode ajudar a avaliar o risco, informar as decisões de tratamento e identificar potenciais terapias dirigidas.

    Fatores Hormonais

    Os fatores hormonais, particularmente o estrogénio, desempenham um papel crucial no desenvolvimento do cancro da mama. O estrogénio pode estimular o crescimento das células do cancro da mama, especialmente nas células que expressam recetores de estrogénio (ER+). Esta estimulação pode levar à proliferação e sobrevivência celular descontroladas. O cancro da mama ER+ é o tipo mais comum de cancro da mama. A terapia endócrina, que visa bloquear ou reduzir os níveis de estrogénio, é uma abordagem de tratamento comum para o cancro da mama ER+. Outras hormonas, como a progesterona e o fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1), também podem contribuir para o desenvolvimento e progressão do cancro da mama. Compreender o papel dos fatores hormonais no cancro da mama levou ao desenvolvimento de terapias hormonais eficazes que melhoraram significativamente os resultados para as pessoas com cancro da mama ER+.

    Fatores de Crescimento e Vias de Sinalização

    Os fatores de crescimento e as vias de sinalização são essenciais para a proliferação, diferenciação e sobrevivência celular. No cancro da mama, estas vias podem estar desreguladas, levando a um crescimento e progressão celular descontrolados. O recetor do fator de crescimento epidérmico humano 2 (HER2) é um fator de crescimento superexpresso em cerca de 15-20% dos cancros da mama. A superexpressão de HER2 está associada a um aumento da proliferação celular, metástases e resistência à terapia. As terapias dirigidas que visam HER2, como o trastuzumab, melhoraram significativamente os resultados para as pessoas com cancro da mama HER2+. Outras vias de sinalização, como a via PI3K/AKT/mTOR e a via RAS/MAPK, também estão frequentemente desreguladas no cancro da mama e são potenciais alvos para o desenvolvimento de terapias dirigidas. Compreender estas vias de sinalização complexas é fundamental para desenvolver estratégias de tratamento eficazes.

    Angiogénese e Metástases

    A angiogénese, a formação de novos vasos sanguíneos, é essencial para o crescimento e metástase do tumor. Os tumores necessitam de um fornecimento de sangue para fornecer nutrientes e oxigénio e remover resíduos. O fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) é um fator chave que promove a angiogénese. Ao secretar VEGF, as células do cancro da mama podem estimular o crescimento de novos vasos sanguíneos para alimentar o tumor. A angiogénese também permite que as células do cancro da mama entrem na corrente sanguínea e se espalhem para outras partes do corpo, levando a metástases. As metástases são a principal causa de mortalidade no cancro da mama. Compreender os mecanismos de angiogénese e metástases levou ao desenvolvimento de terapias que visam VEGF e outras moléculas envolvidas nestes processos, com o objetivo de impedir o crescimento e propagação do tumor.

    Microambiente Tumoral

    O microambiente tumoral, que inclui as células circundantes, vasos sanguíneos e matriz extracelular, desempenha um papel crucial no desenvolvimento e progressão do cancro da mama. As células estromais, como os fibroblastos, as células imunitárias e as células endoteliais, podem interagir com as células do cancro da mama e influenciar o seu comportamento. Por exemplo, as células imunitárias podem promover ou inibir o crescimento do tumor, dependendo do seu tipo e atividade. A matriz extracelular, que fornece suporte estrutural aos tecidos, também pode afetar a proliferação, migração e invasão das células do cancro. Compreender as complexas interações entre as células do cancro da mama e o microambiente tumoral é essencial para desenvolver terapias mais eficazes que visem tanto as células do cancro como o seu microambiente.

    Tipos de Cancro da Mama

    O cancro da mama não é uma única doença, mas sim um grupo heterogéneo de doenças com características biológicas e comportamentos clínicos distintos. Os principais tipos de cancro da mama incluem:

    • Carcinoma Ductal Invasivo (CDI): Este é o tipo mais comum de cancro da mama, representando cerca de 70-80% de todos os casos de cancro da mama. Começa nos ductos de leite e pode espalhar-se para outras partes do corpo.
    • Carcinoma Lobular Invasivo (CLI): Este é o segundo tipo mais comum de cancro da mama, representando cerca de 10-15% de todos os casos de cancro da mama. Começa nos lóbulos produtores de leite e pode espalhar-se para outras partes do corpo.
    • Carcinoma Ductal In Situ (CDIS): Esta é uma condição não invasiva em que as células anormais são encontradas no revestimento dos ductos de leite. O CDIS é considerado não invasivo porque as células não se espalharam para fora dos ductos de leite. No entanto, o CDIS pode aumentar o risco de desenvolver cancro invasivo da mama mais tarde na vida.
    • Carcinoma Lobular In Situ (CLIS): Esta é uma condição não invasiva em que as células anormais são encontradas nos lóbulos produtores de leite. O CLIS não é considerado um verdadeiro cancro, mas pode aumentar o risco de desenvolver cancro invasivo da mama mais tarde na vida.
    • Cancro da Mama Inflamatório (CMI): Este é um tipo raro e agressivo de cancro da mama que representa cerca de 1-5% de todos os casos de cancro da mama. O CMI faz com que a mama pareça vermelha, inchada e sensível. Geralmente não causa um caroço, o que pode tornar o seu diagnóstico difícil.
    • Cancro da Mama Triplo Negativo (CMTN): Este é um tipo de cancro da mama que não tem recetores de estrogénio, recetores de progesterona ou recetores de HER2. O CMTN é mais agressivo do que outros tipos de cancro da mama e é mais provável que se espalhe para outras partes do corpo. Também é mais difícil de tratar.

    Estadiamento do Cancro da Mama

    O estadiamento é uma forma de descrever a extensão do cancro no corpo. Os médicos usam testes de diagnóstico para determinar o estadio do cancro, por isso o estadiamento pode não estar completo até que todos os testes estejam concluídos. Conhecer o estadio ajuda o médico a:

    • Planear o tratamento mais adequado.
    • Ajudar a prever o prognóstico (a hipótese de recuperação).
    • Identificar ensaios clínicos que podem ser uma opção.

    O sistema de estadiamento mais comum para o cancro da mama é o sistema TNM da American Joint Committee on Cancer (AJCC). O sistema TNM tem em conta três fatores:

    • T (tumor): Tamanho do tumor e até que ponto se espalhou para os tecidos próximos.
    • N (nódulo): Se o cancro se espalhou para os gânglios linfáticos próximos.
    • M (metástase): Se o cancro se espalhou para órgãos distantes.

    Os resultados são combinados para determinar um estadio geral. Os estadios variam de 0 a IV. O estadio I é o cancro em estadio inicial e o estadio IV é o cancro em estadio avançado que se espalhou para outras partes do corpo.

    Tratamento do Cancro da Mama

    Existem vários tratamentos disponíveis para o cancro da mama. Os tratamentos mais comuns incluem:

    • Cirurgia: A cirurgia é frequentemente o primeiro tratamento para o cancro da mama. Existem diferentes tipos de cirurgia, incluindo:
      • Lumpectomia: Remoção do tumor e de uma pequena quantidade de tecido circundante.
      • Mastectomia: Remoção de toda a mama.
      • Dissecção dos gânglios linfáticos sentinela: Remoção de alguns gânglios linfáticos sob o braço para verificar se há cancro.
      • Dissecção dos gânglios linfáticos axilares: Remoção de muitos gânglios linfáticos sob o braço.
    • Radiação: A radiação usa raios X de alta energia ou outras partículas para matar as células cancerosas. A radiação pode ser administrada externamente (radiação de feixe externo) ou internamente (braquiterapia).
    • Quimioterapia: A quimioterapia usa fármacos para matar as células cancerosas. A quimioterapia pode ser administrada por via oral ou intravenosa.
    • Terapia Hormonal: A terapia hormonal usa fármacos para bloquear os efeitos das hormonas no crescimento das células cancerosas. A terapia hormonal é utilizada para tratar cancros da mama positivos para recetores hormonais.
    • Terapia Dirigida: A terapia dirigida usa fármacos para atacar proteínas ou genes específicos envolvidos no crescimento das células cancerosas. A terapia dirigida é utilizada para tratar cancros da mama HER2-positivos.
    • Imunoterapia: A imunoterapia usa fármacos para ajudar o sistema imunitário a combater o cancro. A imunoterapia está a ser utilizada para tratar alguns tipos de cancro da mama triplo negativo.

    Conclusão

    A fisiopatologia do cancro da mama é um campo complexo e multifacetado que envolve uma interação complexa de fatores genéticos, hormonais e ambientais. A investigação nesta área está em curso, levando a uma melhor compreensão dos mecanismos moleculares subjacentes ao desenvolvimento e progressão do cancro da mama. Esta compreensão é fundamental para desenvolver melhores estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento. Ao compreender as complexidades da fisiopatologia do cancro da mama, podemos trabalhar para melhorar os resultados e a qualidade de vida das pessoas afetadas por esta doença.

    Espero que este guia completo tenha ajudado você a entender a fisiopatologia do cancro da mama.